José Maria de Eça de Queirós, autor de O Crime do Padre Amaro, figura atenta ao seu meio envolvente, escreveu obras que são o espelho dessas mesmas sociedades. Enquanto Administrador do Concelho de Leiria, captou ao pormenor a sociedade beata leiriense, reunindo os dados necessários para escrever aquele que é considerado o primeiro romance realista português, repleto de críticas a aspectos ardilosamente mascarados nas personagens e na própria acção da obra.
Leiria Queirosiana
Enquanto cidadão de Leiria, Eça de Queirós passou por locais citadinos que ainda hoje se podem reconhecer no Passeio Queirosiano, e que são retratados
De forma a dar maior visibilidade a esses espaços, a Câmara de Leiria, em parceria com outras entidades, elaborou um percurso pedestre que os identifica. Segundo a Dra. Isabel Damasceno, actual Presidente da Câmara Municipal de Leiria: “Há um roteiro histórico que faz o percurso dentro do centro histórico da cidade, identificando os espaços onde o Eça localiza a acção do próprio livro, para que as pessoas consigam identificar os locais descritos na obra”.
O Percurso Queirosiano engloba, para além dos locais retratados na obra O Crime do Padre Amaro, os locais frequentados por Eça na sua estadia de um ano em Leiria e onde exerceu as suas funções.
O Passeio Queirosiano tem o seu ponto de partida na Igreja de S. Pedro. Outrora teatro, foi o local onde Eça e uma fidalga com quem estava envolvido se encontraram. Mais tarde, antes da construção da actual, terá sido a Sé de Leiria.
O ponto seguinte do roteiro é a Torre Sineira, sobre a qual existe uma casa que, na obra, é descrita num local distinto, junto à Sé.
A Sé, estrutura imponente e outra das paragem do passeio, é o local onde o Padre Amaro celebrava a missa. A sua construção teve início em 1550 e beneficiou de obras de reabilitação, sobretudo na fachada principal, devido ao facto de ter sido fortemente danificada na sequência do terramoto de 1755. O seu interior, nomeadamente a sacristia, são também locais referidos na obra.
Junto à Sé encontram-se os dois locais seguintes do roteiro. Em primeiro lugar, e à direita da Sé, existe a Administração do Concelho, local onde Eça de Queirós exerceu as suas funções enquanto Administrador do Conselho de Leiria. Em segundo lugar, e ainda no largo da Sé, o edifício azul que alberga a antiga Farmácia Paiva, serviu de modelo à Botica do Carlos.
No percurso da Sé para o Terreiro, identificam-se mais dois dos locais pertencentes à Leiria Queirosiana. O mais longo, a Rua Direita, foi a rua por onde Eça passava diariamente quando se deslocava para a Administração do Concelho. Na obra representa o trajecto que Amaro percorria para ir para a Sé, praticamente o mesmo percurso de Eça de Queirós, visto que a casa onde Amaro estava alojado, a da S. Joaneira, corresponde à casa que Eça habitou enquanto esteve em Leiria, a Casa da Travessa da Tipografia.
No culminar da Rua Direita existe o Terreiro, onde se situavam as residências da alta aristocracia leiriense, como o Solar do Barão de Salgueiro, à data Presidente da Câmara, onde Eça passou por um dos mais caricatos e humilhantes episódios da sua vida, no baile de máscaras do Carnaval de 1871.
O passeio segue depois para a Praça Rodrigues Lobo, com as suas arcadas, espaço de convívio e de comércio, por onde Eça e Amaro passeavam.
Numa das saídas da praça existia a Assembleia Leiriense, local onde se fazia a leitura dos jornais e de que Eça foi sócio. Era também um ponto de encontro dos mais notáveis de Leiria.
No caminho para a margem do rio Lis, hoje totalmente remodelado, situa-se o Rossio, local onde Amaro e o Cónego Dias costumavam passear e onde actualmente se pode ver a Fonte Luminosa e o Jardim Luís de Camões.
Finalmente, e com vista para o rio, surge o Marachão, local preferido por muitos cidadãos para desfrutar de um belo passeio junto ao Lis e usufruir de uma excepcional vista sobre Leiria.
Celibato dos padres
Atento analista da sociedade, Eça de Queirós caracterizou a sociedade leiriense de beata e muito devassa, como aliás refere o Dr. Acácio de Sousa, Director do Arquivo Distrital de Leiria: “Ele [Eça] perguntou ao seu secretário como era Leiria, ao que ele respondeu que era uma cidade muito beata, muito fechada, muito parola, mas por trás da beatice era uma devassidão permanente (...)”.
Abordado
A maioria dos entrevistados manifestou-se desfavoravelmente à manutenção do celibato, de que são exemplo estes testemunhos:
- “A religião católica está muito atrasada em relação à mentalidade da sociedade em que vivemos. Não tem acompanhado a evolução do pensamento das pessoas, e isso verifica-se na questão do celibato, do aborto, do uso de contraceptivos, etc. Se calhar por isso também tem perdido muitos fiéis.”.
- “Acho que os padres são pessoas como outras quaisquer, têm é que ter uma função nas crianças para promover a religião e a fé em Deus, ou pelo menos a acreditar que há qualquer coisa que nos move, o que é importante. Acho que o celibato não lhes dá o equilíbrio necessário, porque todos nós somos humanos e precisamos de algum apoio familiar, daí que eu considere que o celibato não nos ajuda.”
- “Penso que o padre é um ser humano como outro qualquer. Deus, quando criou o homem, disse: «Multiplicai-vos», portanto eu acho que o homem, mesmo sendo padre, tem as mesmas necessidades básicas que tem qualquer outro ser humano. Há até outras religiões em que o padre, sendo casado, não é menos padre que do que o padre da religião católica, precisamente porque compreende melhor os problemas dos outros tendo os mesmo problemas em sua própria casa. Desta forma, um padre não tem necessariamente de ser um celibatário para ser um bom sacerdote.”
- “É uma estupidez o facto de o padre hoje em dia não poder constituir uma família. Por isso é que costumamos ouvir episódios como a Casa Pia, porque o padre, ao fim e ao cabo, é um ser humano igual aos outros, por isso tem todo o direito de fazer a sua vida.”
A escassez de padres foi, também, um dos argumentos para justificar a opinião contrária ao regime de celibato.
Encontrámos, igualmente, opiniões favoráveis ao celibato, em acordo com o que é estipulado pelas autoridades eclesiásticas, conforme demonstra o seguinte testemunho:
- “Se o sacerdote escolheu [o celibato] e sabia que era isso que o esperava quando foi para o sacerdócio, então deve manter essa promessa. Agora se a Igreja facultar entre o celibato e o casamento penso que aí os padres se podem casar.”.
Fontes:
Eça de Queirós
Eça de Queirós no site dos Grandes Portugueses
Escola
Escola Secundária de Domingos Sequeira
Leiria
Região de Turismo Leiria-Fátima
Ministério da Educação
SAPO
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