Com o anunciar das 10 equipas vencedoras do SAPO Challenge 2007, e ao tomarmos conhecimento de que fomos uma delas, orgulhamo-nos de poder dizer que o nosso esforço valeu a pena. Todas as horas passadas em gravações, em ensaios e em soirées literárias acabaram por se transformar em cada minuto de satisfação que sentimos quando soubemos que tínhamos ganho mais uma Escola do Futuro para Leiria, a maior recompensa que poderíamos ter tido depois de tanto trabalho árduo e de tanto tempo despendido a explorar a vida e obra de Eça de Quéirós, focando-nos maioritariamente em O Crime do Padre Amaro.
No entanto, o nosso trabalho envolveu mais do que os cinco elementos da equipa, pelo que gostaríamos de agradecer a todos aqueles que nos possilitaram chegar tão longe neste projecto ambicioso do PT Escolas. Particularizando, os nossos agradecimentos recaem sobre:
Foi na cidade de Leiria que, pela pena de Eça de Queirós ao criar O Crime do Padre Amaro, surgiu o primeiro romance realista escrito na língua portuguesa. Foi portanto esta, indiscutivelmente, a cidade-berço da nova Escola Realista em Portugal e consequentemente a cidade que revelou à nação o grande romancista Eça de Queirós. A produção escrita de Eça de Queirós iniciou-se cerca de três anos e meio antes de ter sido empossado no cargo de Administrador do Concelho de Leiria. Apesar da vasta cultura e superior talento que revelava, a verdade é que os trabalhos de Eça, publicados nuns quantos jornais, não obtinham o sucesso esperado.
Seria na tranquilidade da cidade do Lis que Eça encontraria a motivação e condições ideais para escrever o romance que, pela sua temática e técnica realista-naturalista, chocou a sociedade da época através da denúncia da hipocrisia social e religiosa. Tendo tomado posse do cargo de Administrador do Concelho em Leiria a 30 de Julho de 1870, foi também aqui que redigiu, pelo menos em grande parte, a sua primeira obra de ficção, o Mistério da Estrada de Sintra, em colaboração com Ramalho Ortigão e publicada sob a forma de cartas anónimas no Diário de Notícias, entre 24 de Julho e 27 de Setembro de 1870. Foi ainda nesta cidade que, muito provavelmente, Eça de Queirós preparou e redigiu a célebre Conferência "O Realismo como nova expressão da Arte", proferida em Lisboa a 12 de Junho de 1871, 6 dias depois de ter sido exonerado por despacho do cargo que desempenhava em Leiria.
Se podem ainda subsistir nalguns espíritos dúvidas quanto ao local de nascimento biológico do ilustre Eça, a verdade é que, no que concerne à história da literatura portuguesa, se comprova ter-se dado em Leiria o nascimento do grande expoente do realismo português.
Fontes:
Os rumores que nos últimos dias percorreram o país acabam de ser confirmados: o famoso romancista Eça de Queirós nasceu realmente em Leiria.
Aguardamos a chegada à nossa redacção, a qualquer instante, de novos elementos que permitam desenvolver esta notícia realmente extraordinária. Fica atento!
O Clã Twice entrevistou o Dr. Acácio de Sousa, Director do Arquivo Distrital de Leiria.
O Clã Twice entrevistou também a Dra. Isabel Damasceno, actual Presidente da Câmara de Leiria, que além de falar de Eça, de Leiria e da obra, também falou da iniciativa do SAPO Challenge.
José Maria de Eça de Queirós, autor de O Crime do Padre Amaro, figura atenta ao seu meio envolvente, escreveu obras que são o espelho dessas mesmas sociedades. Enquanto Administrador do Concelho de Leiria, captou ao pormenor a sociedade beata leiriense, reunindo os dados necessários para escrever aquele que é considerado o primeiro romance realista português, repleto de críticas a aspectos ardilosamente mascarados nas personagens e na própria acção da obra.
Leiria Queirosiana
Enquanto cidadão de Leiria, Eça de Queirós passou por locais citadinos que ainda hoje se podem reconhecer no Passeio Queirosiano, e que são retratados
De forma a dar maior visibilidade a esses espaços, a Câmara de Leiria, em parceria com outras entidades, elaborou um percurso pedestre que os identifica. Segundo a Dra. Isabel Damasceno, actual Presidente da Câmara Municipal de Leiria: “Há um roteiro histórico que faz o percurso dentro do centro histórico da cidade, identificando os espaços onde o Eça localiza a acção do próprio livro, para que as pessoas consigam identificar os locais descritos na obra”.
O Percurso Queirosiano engloba, para além dos locais retratados na obra O Crime do Padre Amaro, os locais frequentados por Eça na sua estadia de um ano em Leiria e onde exerceu as suas funções.
O Passeio Queirosiano tem o seu ponto de partida na Igreja de S. Pedro. Outrora teatro, foi o local onde Eça e uma fidalga com quem estava envolvido se encontraram. Mais tarde, antes da construção da actual, terá sido a Sé de Leiria.
O ponto seguinte do roteiro é a Torre Sineira, sobre a qual existe uma casa que, na obra, é descrita num local distinto, junto à Sé.
A Sé, estrutura imponente e outra das paragem do passeio, é o local onde o Padre Amaro celebrava a missa. A sua construção teve início em 1550 e beneficiou de obras de reabilitação, sobretudo na fachada principal, devido ao facto de ter sido fortemente danificada na sequência do terramoto de 1755. O seu interior, nomeadamente a sacristia, são também locais referidos na obra.
Junto à Sé encontram-se os dois locais seguintes do roteiro. Em primeiro lugar, e à direita da Sé, existe a Administração do Concelho, local onde Eça de Queirós exerceu as suas funções enquanto Administrador do Conselho de Leiria. Em segundo lugar, e ainda no largo da Sé, o edifício azul que alberga a antiga Farmácia Paiva, serviu de modelo à Botica do Carlos.
No percurso da Sé para o Terreiro, identificam-se mais dois dos locais pertencentes à Leiria Queirosiana. O mais longo, a Rua Direita, foi a rua por onde Eça passava diariamente quando se deslocava para a Administração do Concelho. Na obra representa o trajecto que Amaro percorria para ir para a Sé, praticamente o mesmo percurso de Eça de Queirós, visto que a casa onde Amaro estava alojado, a da S. Joaneira, corresponde à casa que Eça habitou enquanto esteve em Leiria, a Casa da Travessa da Tipografia.
No culminar da Rua Direita existe o Terreiro, onde se situavam as residências da alta aristocracia leiriense, como o Solar do Barão de Salgueiro, à data Presidente da Câmara, onde Eça passou por um dos mais caricatos e humilhantes episódios da sua vida, no baile de máscaras do Carnaval de 1871.
O passeio segue depois para a Praça Rodrigues Lobo, com as suas arcadas, espaço de convívio e de comércio, por onde Eça e Amaro passeavam.
Numa das saídas da praça existia a Assembleia Leiriense, local onde se fazia a leitura dos jornais e de que Eça foi sócio. Era também um ponto de encontro dos mais notáveis de Leiria.
No caminho para a margem do rio Lis, hoje totalmente remodelado, situa-se o Rossio, local onde Amaro e o Cónego Dias costumavam passear e onde actualmente se pode ver a Fonte Luminosa e o Jardim Luís de Camões.
Finalmente, e com vista para o rio, surge o Marachão, local preferido por muitos cidadãos para desfrutar de um belo passeio junto ao Lis e usufruir de uma excepcional vista sobre Leiria.
Celibato dos padres
Atento analista da sociedade, Eça de Queirós caracterizou a sociedade leiriense de beata e muito devassa, como aliás refere o Dr. Acácio de Sousa, Director do Arquivo Distrital de Leiria: “Ele [Eça] perguntou ao seu secretário como era Leiria, ao que ele respondeu que era uma cidade muito beata, muito fechada, muito parola, mas por trás da beatice era uma devassidão permanente (...)”.
Abordado
A maioria dos entrevistados manifestou-se desfavoravelmente à manutenção do celibato, de que são exemplo estes testemunhos:
- “A religião católica está muito atrasada em relação à mentalidade da sociedade em que vivemos. Não tem acompanhado a evolução do pensamento das pessoas, e isso verifica-se na questão do celibato, do aborto, do uso de contraceptivos, etc. Se calhar por isso também tem perdido muitos fiéis.”.
- “Acho que os padres são pessoas como outras quaisquer, têm é que ter uma função nas crianças para promover a religião e a fé em Deus, ou pelo menos a acreditar que há qualquer coisa que nos move, o que é importante. Acho que o celibato não lhes dá o equilíbrio necessário, porque todos nós somos humanos e precisamos de algum apoio familiar, daí que eu considere que o celibato não nos ajuda.”
- “Penso que o padre é um ser humano como outro qualquer. Deus, quando criou o homem, disse: «Multiplicai-vos», portanto eu acho que o homem, mesmo sendo padre, tem as mesmas necessidades básicas que tem qualquer outro ser humano. Há até outras religiões em que o padre, sendo casado, não é menos padre que do que o padre da religião católica, precisamente porque compreende melhor os problemas dos outros tendo os mesmo problemas em sua própria casa. Desta forma, um padre não tem necessariamente de ser um celibatário para ser um bom sacerdote.”
- “É uma estupidez o facto de o padre hoje em dia não poder constituir uma família. Por isso é que costumamos ouvir episódios como a Casa Pia, porque o padre, ao fim e ao cabo, é um ser humano igual aos outros, por isso tem todo o direito de fazer a sua vida.”
A escassez de padres foi, também, um dos argumentos para justificar a opinião contrária ao regime de celibato.
Encontrámos, igualmente, opiniões favoráveis ao celibato, em acordo com o que é estipulado pelas autoridades eclesiásticas, conforme demonstra o seguinte testemunho:
- “Se o sacerdote escolheu [o celibato] e sabia que era isso que o esperava quando foi para o sacerdócio, então deve manter essa promessa. Agora se a Igreja facultar entre o celibato e o casamento penso que aí os padres se podem casar.”.
Fontes:
O Crime do Padre Amaro é considerado por muitos como a primeira obra importante do escritor Eça de Queirós.
Eça foi o criador de uma nova corrente de escrita, o “Realismo como nova expressão de Arte”, segundo a qual a criação de um romance se deveria basear na observação da realidade, no realçar da beleza e na manifestação do sentido de justiça.
Eça de Queirós escreveu este romance em resultado de um orgulho ferido, por se ter sentido desprestigiado pelo seu trabalho, perante uma assembleia de Senhoras da alta sociedade.
Nesta época, era frequente realizarem-se encontros sociais em casas de Senhoras da sociedade Leiriense, os quais contavam com a assídua presença do Sr. Vigário, Pároco da Sé.
Num destes encontros, uma das Senhoras solicitou a Eça que recitasse algumas das suas poesias, pedido a que o mesmo acedeu. Terminada a sua actuação, teceram-se alguns comentários pela assembleia presente. Destaca-se, no entanto, o facto de a actuação de Eça ter merecido, da parte do Sr. Vigário, comentários pouco abonatórios e sobretudo constrangedores para alguém que procurava cativar uma plateia de Senhoras, não tivesse o Sr. Vigário proferido o seguinte:
- “Olhe, minha Senhora, isto de poetas são todos patetas.”
Desagradado, de orgulho muito ferido e como que num acto de vingança, Eça, ao arrepio dos axiomas em que a sua corrente literária se deveria basear, apressou-se a criar O Crime do Padre Amaro, baseando-se "Num realismo convencional" e "Na adivinhação", conforme a opinião de alguns escritores consagrados (Ramalho Ortigão e Oliveira Martins).
Este sentimento de orgulho ferido conduziu Eça a inspirar-se num escritor francês para a criação da figura moral do Padre Amaro. A figura física baseou-se na do então Prior dos Marrazes-Leiria, satirizando um pouco a Santa Madre Igreja.
Fonte:
Na sua curta passagem pela Cidade de Leiria, Eça de Queirós deixou testemunhos que permitem concluir que também deveria ser um adepto das fantasias de Carnaval. Participou num baile de máscaras, no Carnaval de 1871, no palácio do Barão de Salgueiro, na época presidente da Câmara de Leiria.
O Carnaval representava uma época festiva em que os cidadãos se podiam fantasiar ou assumir um comportamento menos adequado ao seu estatuto, sem se sujeitarem à crítica social. Assim, com esse espírito, fantasiou-se de cúpido, talvez para melhor exprimir os seus sentimentos por alguém.
Uma entrevista a D. Maria das Dores (MD), residente na travessa da tipografia nº 13, contemporânea de Eça de Queirós, publicada a 24 de Dezembro de 1939 pelo jornal “Republica” (jR) é disso testemunha. A seguir transcrevemos um trecho da entrevista em que ela se refere a um baile de máscaras no palácio do Barão Salgueiro:
“(jR): Recorda-se de um escândalo qualquer que houve com o Eça por causa de um baile?
A Sr.ª Maria das Dores (MD) desvia os olhos de nós para pensar um momento.
(MD): - Sim, sim … Ouvi falar muito nisso. Parece até que o trataram muito mal, mas porque não o conheceram. A gente com a máscara parece outra pessoa! Vai daí que não o conheceram.
(jR): - Mas a Sr.ª Maria das Dores não pode precisar bem o que foi? Veja lá …
A simpática velhinha sorri:
(MD): - Ora!
(jR): - Interessava-nos …
(MD): - Não foi nada assim mau, isso não foi! Coisa de rapazes. Se calhar meteram o Eça em pândegas …
(jR): - E …
(MD): - E ele fez aquilo.
(jR): - Mas como foi?
(MD): - Olhe! O Sr. Barão, o Barão de Salgueiro, deu um baile de máscaras que foi coisa grande. Ficou falado. E às tantas da noite, bem pela noite velha, ouviu-se um grande barulho à porta. A fidalguia correu logo para saber o que era. E o que era! Os criados agarravam um homem quase nu, mascarado de amor (cúpido), que trazia uma máscara na cara e que queria entrar a viva força. Houve uma barulheira, juntou-se a assistência toda, mas o homem foi-se embora sem tirar a máscara. E quasi nu! Que doidice!
(jR): - Mas quem era?
(MD): - Ora! O Eça apareceu dali a pouco, vestido como andava sempre. Contaram-lhe o caso e ele riu-se muito. Mas toda a gente soube, depois, que tinha sido ele. Rapazes!
A Sr.ª Maria das Dores tem um grande sorriso de perdão – e de saudade. Eram outros tempos, havia o fulgor vivo da mocidade. E ela sabe – se sabe! – que a juventude deixa ir um pedaço de si agarrada a cada dia que passa.”
Sobre este episódio, ao chegar a casa, Eça de Queirós comentou para o seu confidente Júlio Teles "Consummatum est – olha sou um cúpido desasado".
Se quiseres conhecer a nossa escola, denominada Escola Secundária de Domingos Sequeira (ESDS), navega na galeria de fotos.
Bem-vindo ao blog do clã Twice. Este blog insere-se no âmbito da segunda fase do concurso SAPO Challenge, pelo que será actualizado regularmente ao longo das quatro semanas em que o concurso estiver a decorrer.
O nosso clã tem como membros Diogo Almeida, João Penedo, Mariana Lopes, Raquel Fonseca e Rita Sales, de dezasseis anos, frequentando o 11º ano de escolaridade, na Escola Secundária de Domingos Sequeira, em Leiria.
Todos nós optámos pelo agrupamento de ciências e tecnologias devido ao interesse comum que temos pelas ciências como a matemática e a biologia, nomeadamente pelo seu papel na compreensão do mundo que nos rodeia. A música, confraternização/convívio com os amigos são também interesses comuns entre nós.
Decidimos aventurarmo-nos nesta Aventura do Conhecimento dado que consideramos esta iniciativa bastante meritória, uma vez que constitui um desafio estimulante para nós, aliando o desenvolvimento dos hábitos de leitura com uma componente tecnológica que vai de encontro às nossas preferências.
Dada a parceria do concurso com o Plano Nacional de Leitura, foi-nos proposta a escolha de uma obra da autoria de um autor português de prestígio, que no nosso caso recaiu sobre O Crime do Padre Amaro, de Eça de Queirós. A nossa escolha prendeu-se com o facto de a acção da obra decorrer na cidade de Leiria, na qual somos residentes e pelo facto de, por outro lado, Eça de Queirós ser largamente reconhecido como um génio literário, que em muito engrandeceu a literatura portuguesa, sendo O Crime do Padre Amaro mais um dos exemplares do brilhante legado queirosiano. E é nessa obra que o nosso trabalho se vai basear, por isso:
Convidamos-te a ser cúmplice…
Eça de Queirós
Eça de Queirós no site dos Grandes Portugueses
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